A revolução feminina foi um golpe dos homens

Às vezes eu acredito que o movimento pela igualdade de direito às mulheres foi inventado por um homem. Só pode. Não há outra explicação. Os únicos beneficiados com esta história foram eles.

 

Analisem comigo. Antigamente as mulheres tinham um papel extremamente doméstico. Tinham que cuidar da casa, dos filhos e ponto. Era obrigação delas, zelar pela educação dos pequenos e pelo bem estar do marido. Este tinha o dever de sustentar a casa e a esposa. Os homens podiam ser os maiores cafajestes, mas tinham a obrigação de garantir o presente e o futuro de sua família.

 

E hoje? Hoje, nós mulheres somos frutos de outras mulheres que, ensandecidas resolveram reivindicar pelo direito de trabalhar fora e ter sua independência. Ganhamos. E aí? E aí que agora, trabalhamos fora, ajudamos no sustento do lar – quando não fazemos isso sozinha – arrumamos a casa, nos preocupamos com o alimento, a criação dos filhos e o bem estar do marido. E os maridos?  Continuam os mesmos cafajestes de sempre.

 

É raro encontrar um homem que perceba que, junto com a revolução feminina, deve haver uma conciliação total de deveres e papéis. Se as mulheres trabalham fora, não têm o dever solitário de promover a vida domiciliar. É obrigação de ambos. Mesmo que, a grande e esmagadora maioria dos homens ainda se deleitam em um machismo arcaico e infundado de que nasceram para trabalhar fora e serem servidos quando estão em casa.

 

O homem que ainda acredita que a palavra “doméstico” é um conceito puramente feminino, deve pelo menos ter a decência de ser um machista por completo e não pela metade. Porque macho que é macho, não divide a conta, nem as despesas.

 

Mas quando o papel de pagar não pode ser assumido apenas por um. Então o homem tem que encarar o lugar que lhe cabe por obrigação, dentro de casa. O machão da idade da pedra tem que aprender o lugar da cueca, do copo que bebeu água e principalmente saber de uma vez por todas que o controle remoto não é um acessório restrito ao uso masculino.

A bruxa que existe em todos nós

Aprender a viver em um novo corpo não é nada fácil. No começo, nos sentimos como se tivéssemos sido transportadas para um lugar estranho, de cultura e jeito diferente. Tudo muda, não apenas você. As pessoas não te tratam mais como antes. Você não se trata mais da mesma forma.

 

E aprender a lidar com estas novas experiências é o grande desafio. Porque em algum momento você percebe que nunca se conheceu de verdade. Aos poucos vê aquela pessoa partir e estrear uma totalmente diferente, não apenas na aparência.

 

Digo isso porque, quando se é gorda e está totalmente fora dos padrões normais estabelecidos, buscamos recompensar de alguma maneira. Somos sempre os mais legais, carinhosos, que abdicam de suas coisas em prol dos outros. Fazemos isso de forma inconsciente. Talvez, como instinto de sobrevivência.

 

Mas com a cirurgia, a coisa muda de figura. Quase que de uma forma natural, você passa a não aceitar mais “tudo”. De uma pessoa amável, engraçada e quase que samaritana, passa a pensar em você mesma. De repente passa a buscar coisas que realmente te deixem feliz.

 

E isso incomoda. No começo, incomoda à você. Ficamos perdidos. Sem chão e sem razão. Nos vemos como pessoas egoístas, mesquinhas, que perdem o freio, quando conseguem acelerar um pouco mais.

 

Com o passar do tempo, aprendemos a conviver com sentimentos reais. Sejam eles bons ou ruins. Com sentimentos de egocentrismo, tão incomuns entre os gordos. Você passa a fazer parte daquele mundo irreal, que existia apenas em seus sonhos. E é preciso muito tempo até que seu reflexo te convença que aquela imagem no espelho é mesma sua.

 

Hoje, já superei a meta da nutricionista e emagreci 43kg. Para ter uma noção mais precisa, eu vestia número 54. Agora meu manequim é 36/38. Estou tão feliz que nem mesmo sei como exteriorizar em palavras. É um sentimento de emoção. Uma emoção medrosa, de quem custa acreditar que seja realidade, aquilo que sempre fez parte do mundo dos sonhos.

Uma ex-gorda

É a primeira vez que escrevo sobre a cirurgia que fiz há quase um ano. Não que ela tenha sido traumatizante. Longe disso. Ela renovou minha alma, trouxe novos valores, novas emoções e me fez aprender tudo de novo.

 

Em 03 de outubro de 2008, no Hospital JK, em Brasília, eu passei por uma gastroplastia. Com 104,9kg e apenas 1,55m de altura, eu reduzi o estômago. Para muitos, esta é uma decisão a ser tomada de forma longa e totalmente bem refletida.

 

Porém, não foi meu caso. Sempre fui contra. Ouvia as pessoas dizerem que “fulano” morreu depois desta cirurgia. “Ciclano” ficou em coma. As histórias me assustavam. Mas a medida do tempo, meu peso e a péssima qualidade de vida que leva por causa dele, me assustavam bem mais.

 

Com problemas respiratórios e no estômago, liguei em algumas clínicas para marcar um gastro. Achei um, marquei um horário e perguntei se aceitavam meu plano de saúde. Após a resposta positiva, também indaguei se eles faziam endoscopia. Veio a surpresa. A secretária me informou que era uma clínica de cirurgia bariátrica. Assustada, indaguei novamente sobre eles aceitarem um plano de saúde para tal procedimento. Então marquei uma consulta para a semana seguinte.

 

Em casa, conversei com o marido sobre o que ocorreu. Sete dias depois, eu e ele fomos ao encontro com o médico, Rafael Galvão. Ao saber que o meu IMC era de 43, já saí do encontro com a solicitação de todos os exames pré-operatórios. Entre as diversas providências estava participar de cursos, palestras e análise psicológica. Requisitos essenciais para quem quer recomeçar.

 

Dois meses depois, estava na sala de cirurgia. Eu tinha muito medo. Medo de morrer. De não ver mais minha filha, de apenas um ano, na época. Medo de passar muito tempo no hospital. Medo de não conseguir ficar um mês, praticamente sem comer. Medo principalmente de continuar gorda.

 

Esta era minha última cartada. A derradeira, após tantas tentativas frustradas e desesperadas. Assim como milhões de brasileiros, passei por todas aquelas dietas, academias ou qualquer fórmula esplêndida que pudesse realizar o milagre de não ser a mais gorda da turma e da família.

 

Esperei esta cirurgia, como quem espera para nascer. Como quem espera para brilhar em um mundo onde sempre estive apagada. Seria hipocrisia total dizer que operei por saúde. Fiz a cirurgia para conhecer um lado da vida. Conhecer outro lado meu, perdido em algum canto, em algum lugar onde ainda não tinha conseguido alcançar.

Hello world!

Welcome to WordPress.com. This is your first post. Edit or delete it and start blogging!