Uma ex-gorda

É a primeira vez que escrevo sobre a cirurgia que fiz há quase um ano. Não que ela tenha sido traumatizante. Longe disso. Ela renovou minha alma, trouxe novos valores, novas emoções e me fez aprender tudo de novo.

 

Em 03 de outubro de 2008, no Hospital JK, em Brasília, eu passei por uma gastroplastia. Com 104,9kg e apenas 1,55m de altura, eu reduzi o estômago. Para muitos, esta é uma decisão a ser tomada de forma longa e totalmente bem refletida.

 

Porém, não foi meu caso. Sempre fui contra. Ouvia as pessoas dizerem que “fulano” morreu depois desta cirurgia. “Ciclano” ficou em coma. As histórias me assustavam. Mas a medida do tempo, meu peso e a péssima qualidade de vida que leva por causa dele, me assustavam bem mais.

 

Com problemas respiratórios e no estômago, liguei em algumas clínicas para marcar um gastro. Achei um, marquei um horário e perguntei se aceitavam meu plano de saúde. Após a resposta positiva, também indaguei se eles faziam endoscopia. Veio a surpresa. A secretária me informou que era uma clínica de cirurgia bariátrica. Assustada, indaguei novamente sobre eles aceitarem um plano de saúde para tal procedimento. Então marquei uma consulta para a semana seguinte.

 

Em casa, conversei com o marido sobre o que ocorreu. Sete dias depois, eu e ele fomos ao encontro com o médico, Rafael Galvão. Ao saber que o meu IMC era de 43, já saí do encontro com a solicitação de todos os exames pré-operatórios. Entre as diversas providências estava participar de cursos, palestras e análise psicológica. Requisitos essenciais para quem quer recomeçar.

 

Dois meses depois, estava na sala de cirurgia. Eu tinha muito medo. Medo de morrer. De não ver mais minha filha, de apenas um ano, na época. Medo de passar muito tempo no hospital. Medo de não conseguir ficar um mês, praticamente sem comer. Medo principalmente de continuar gorda.

 

Esta era minha última cartada. A derradeira, após tantas tentativas frustradas e desesperadas. Assim como milhões de brasileiros, passei por todas aquelas dietas, academias ou qualquer fórmula esplêndida que pudesse realizar o milagre de não ser a mais gorda da turma e da família.

 

Esperei esta cirurgia, como quem espera para nascer. Como quem espera para brilhar em um mundo onde sempre estive apagada. Seria hipocrisia total dizer que operei por saúde. Fiz a cirurgia para conhecer um lado da vida. Conhecer outro lado meu, perdido em algum canto, em algum lugar onde ainda não tinha conseguido alcançar.