A bruxa que existe em todos nós

Aprender a viver em um novo corpo não é nada fácil. No começo, nos sentimos como se tivéssemos sido transportadas para um lugar estranho, de cultura e jeito diferente. Tudo muda, não apenas você. As pessoas não te tratam mais como antes. Você não se trata mais da mesma forma.

 

E aprender a lidar com estas novas experiências é o grande desafio. Porque em algum momento você percebe que nunca se conheceu de verdade. Aos poucos vê aquela pessoa partir e estrear uma totalmente diferente, não apenas na aparência.

 

Digo isso porque, quando se é gorda e está totalmente fora dos padrões normais estabelecidos, buscamos recompensar de alguma maneira. Somos sempre os mais legais, carinhosos, que abdicam de suas coisas em prol dos outros. Fazemos isso de forma inconsciente. Talvez, como instinto de sobrevivência.

 

Mas com a cirurgia, a coisa muda de figura. Quase que de uma forma natural, você passa a não aceitar mais “tudo”. De uma pessoa amável, engraçada e quase que samaritana, passa a pensar em você mesma. De repente passa a buscar coisas que realmente te deixem feliz.

 

E isso incomoda. No começo, incomoda à você. Ficamos perdidos. Sem chão e sem razão. Nos vemos como pessoas egoístas, mesquinhas, que perdem o freio, quando conseguem acelerar um pouco mais.

 

Com o passar do tempo, aprendemos a conviver com sentimentos reais. Sejam eles bons ou ruins. Com sentimentos de egocentrismo, tão incomuns entre os gordos. Você passa a fazer parte daquele mundo irreal, que existia apenas em seus sonhos. E é preciso muito tempo até que seu reflexo te convença que aquela imagem no espelho é mesma sua.

 

Hoje, já superei a meta da nutricionista e emagreci 43kg. Para ter uma noção mais precisa, eu vestia número 54. Agora meu manequim é 36/38. Estou tão feliz que nem mesmo sei como exteriorizar em palavras. É um sentimento de emoção. Uma emoção medrosa, de quem custa acreditar que seja realidade, aquilo que sempre fez parte do mundo dos sonhos.